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Sobre Antonio Miranda
 
 


 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 
 

RAMONE ABREU AMADO

( Brasil – Santa Catarina )

 

Nasceu em Lajes, Santa Catarina, mora em Joinville,  
onde estudou Letras e publicou Imitação do Espelho
         onde estudou Letras e publicou Imitação do Espelho
(Letradágua, 2001).


Graduada em Letras pela Universidade da Região de
Joinville. Atualmente é professora efetiva da
Secretaria de Educação do Estado de Santa Catarina.
Tem experiência na área de Educação, Literatura e
Artes, atuando principalmente nas seguintes frentes:
leitura e produção textual.
Informações coletadas do Lattes em 30/10/2022
 

 

BABEL  Revista de Poesia, Tradução e Crítica.  Ano IV - Número 6 - Janeiro a Dezembro de 2003.  Editor Ademir Demarchi.   Campinas, São Paulo                                Ex. bibl. Antonio Miranda

 

Da linguagem ao acaso dos olhos

O disfarce da linguagem sórdida
é apenas sua penetração como pré-texto de amor

Da boca incansável que é o universo
— pétala revisitada  de tempos em tempos pelo sol do leste —
a língua tece estilhaços de cetim
quando relembra as origens
dos diálogos redondos

Licor de fruta, sêmen e santidade imperfeita
são detentores da língua quando o assunto é o orgasmo
por meio da palavra e do sussurro

Meus olhos abertos —
provável que saltados em algum ponto no meio do inferno
atribuíram valor às flores de maio na lapela do demônio
e ao próprio demônio pelo fato de que orava  em aramaico esparso

Contudo, queria mesmo era aprender persa,
porque essa língua me lembra os risos de Mohamed. Reza e Sarah
e porque essa língua me prende à ideia de gatos ancestrais
refletindo sóis na altura do corpo de suas imagens

Ontem os níveis d´água
elevaram-se como um assombro dos olhos,
as casas dos lugares mais afastados receberam o rio em seus
                                                                            cômodos
e os moradores jovens e adultos desses lugares passaram a falar
apenas pela fadiga de seus braços,
na tentativa de salvar móveis, samambaias, violetas e animas
                                                                             perdidos

No dia em que eu me desacreditar da beleza de origem da linguagem
porei eu mesma as córneas do jarro azul sobre a mesa,
(sem esquecer de cobri-las de sal, cálcio oxidável e ferroso)
e viverei então na escuridão real para que assim possa reconsiderar

 

 

 

 

O ANCESTRAL E O SONO

Devo adiar minha aceitação e compreensão, e gritar a meus olhos,
Para que deixem de fitar a estrada,
E imediatamente calculem e mostrem até o menor centavo,
O valor exato de um e o valor exato de dois, e qual vai na frente?"
Walt Whitman

Intensifico minha identidade amorosa
de forma essencial e temporariamente desesperada

O preto no branco,
sem espaços para mim mesma,
amei a fenda branda na parede de ossos de um ancestral
e, desafiadoramente, senti um prazer autoritário
ao amar as três taças trincada no momento do fim de um segredo

No lugar dos mistérios gozosos
a aparição também não-casta
da imagem irregular de Arimatéia com a menina do lago
a criar seus cânticos de sedução
na flor de lótus

Na ordem do dia
a estabilidade das causas de cão sem dono
(o abandono das minhas causas s não se ajusta aos séculos
que desejei passar ao lado do deus do sono e da vigília
— estas duas purezas obtusas e de sóis primordiais,
realizadas no cotidiano resumido e nos sonhos)

Coadunar com o sono e o sumo
para que os sonhos sejam ao mesmo tempo a carne lúcida
e a sombra fina dos desejos
e para que, após o embate, mantenham o sigilo em meus olhos
quando amparados na claridade

Somente esse sono me sustenta na linha do tempo
sempre abraçada a esses papéis de incesto,
ao mesmo tempo tão perto e tão longe de meus ancestrais
que levaram no destino a ira de infelicidades-farpa

----

 

           

Quantos ingênuos desavisados

com seus caroços de maçãs-da-pérsia nos
bolsos
O poema que não pode ser saqueado
pelos demônios de Gil Vicente
O riso despedaçado no assoalho de espelhos
Sóis mal percorrido
e a crise do riso sobre o medo de perder mais
do que a si mesmo

Nuvens de pó e cume
somem com a cúpula das igrejas
nas quais um dia desejei casar
            minhasbonecas

As meias-luas lembradas de anos em anos          
quando o amor - de humor vítreo - reapareça
e tão logo se devasta
— alusão à raça embrulhada pra festa de
máscaras
(quilombolas?)

Por isso ainda hoje prefiro estrelas
 

 

   O templo do tsuru lilás

 
O amor navalha na efígie impercebida

 Há sempre sentimentos tortos que cingem me abrigar
 no escuro de eras fágicas
Os toques semi-secretos exaurem minhas segurança
 e o meu comprometimento com a estabilidade do chão

 Enlouqueces diariamente com teus espelhos de falsa obsessão 
 e com as juras insistentes enfurnada nos sótãos de tuas ideias
 Contudo teus olhos nasceram ainda mais preparados

 Constantemente ressuscito das canções no exílio
 quando o silêncio se faz de perene um reverso do descaso
 e até ontem já havia dobrado muitas centenas de tsurus 
                                                                     japoneses
para que o desejo se realizasse
mas isso foi apenas em pensamento
e o papel de seda que nem mesmo percorri já se esfumou
                                                                      como a
memória

Não basta desenhar platibandas
— o sonho de palácios precisa de elementos vivos para     
                                                              acontecer

E o amor existe, embora esteja viciado de horrores
aleijado de dissídios
encraterecido e lançado aos dentes da noite

Um amor complacente demais é uma derrota brusca para mim




*

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Página publicada em janeiro de 2003      


 

 

 
 
 
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